Desenvolver residenciais que atendam às necessidades de quem tem mais de 60 anos é uma preocupação cada vez maior do mercado imobiliário. A arquitetura para longevidade não pode ser confundida com acessibilidade e um dos maiores desafios é oferecer projetos que contemplem desejos e que tragam autonomia e conforto a este público. Para saber mais sobre esse assunto relevante, afinal, todos nós queremos envelhecer com qualidade de vida, o blog conversou com Manuel Carvalho, diretor de Projetos da Rio8. Confira:
Blog: Qual a diferença entre arquitetura para longevidade e acessibilidade? São dois termos que podem confundir, certo?
Manuel Carvalho: Sim, os dois termos se confundem, mas se complementam. Uma arquitetura para longevidade vai desde políticas públicas para as cidades até a criação de moradias para este público especifico. O mundo está envelhecendo e o numero de natalidade diminuindo. Portanto, hoje as cidades precisam estar preparadas para ações e implementações para este nicho com habilidade e capacidade de transitar pela cidade e ambientes construídos; acessibilidades dos espaços públicos, edifícios e transportes; capacidade de arcar com uma moradia; e segurança. A Terceira Idade é considerada a partir dos 60 anos e os idosos não são iguais, cada um tem uma característica. Então, precisamos analisar e identificar quais atividades do cotidiano ele tem ou não autonomia, e quais atividades usa tecnologia assistiva ou a ajuda de uma pessoa. Ou seja, a arquitetura precisa ser pensada preventivamente para amenizar os riscos e gerar conforto e segurança no dia a dia.
Já a acessibilidade é o conjunto de ações executadas para a inclusão social adotando uma filosofia mundial de modificação da sociedade a fim de abraçar e acomodar as necessidades de todas as pessoas, inclusive das pessoas com deficiência. Neste último caso, elas estão exigindo oportunidades iguais e acesso a todos os recursos da sociedade: educação inclusiva, novas tecnologias, serviços sociais e de saúde, atividades esportivas e de lazer, bens e serviços ao consumidor. O conceito de acessibilidade é descrito na legislação brasileira como a “condição para utilização, com segurança e autonomia, total ou assistida, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos serviços de transporte e dos dispositivos, sistemas e meios de comunicação e informação, por pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida”.
Blog: Qual a importância desse movimento do mercado imobiliário de olhar com mais atenção para a Terceira Idade?
MC: Isso é muito importante, pois precisamos ter cada vez mais uma arquitetura universal que englobe todas as faixas etárias. É um movimento de inclusão e não de exclusão.
Blog: O que não pode faltar em um empreendimento para este tipo de público? Tanto nas áreas comuns quanto nas unidades?
MC: Com relação às áreas comuns, elas devem ser limpas e agradáveis. Além disso, é preciso ter assentos e áreas verdes em quantidade suficiente, com boa manutenção e seguros, pavimentação antiderrapante, livre de obstáculos e exclusivo para pedestres com largura suficiente para passar uma cadeira de rodas, meio fio adaptado para acesso à via de rolamento, segurança externa fornecida por uma boa iluminação, rondas policiais e educação da comunidade, serviços próximos e acessíveis, com atendimento especial tais como filas preferenciais e separadas, boa sinalização fora e dentro das edificações com assentos e banheiros suficientes, elevadores, rampas, escadas acessíveis com piso antiderrapante, e banheiros públicos nas áreas externas e internas com boa manutenção. Nas moradias: iluminação uniforme e bem distribuída, com sensores de movimento, luz de reforço nas áreas de bancadas de cozinha e banheiros, pisos nivelados e antiderrapantes, barras de apoio em banheiros, altura adequada dos moveis, e portas com mínimo de 80 cm de passagem.
Blog: É possível adaptar condomínios mais antigos para a Terceira Idade? Como?
MC: Em muitos casos sim, utilizando recursos que permitam acessibilidade às pessoas com mobilidade reduzida desde disponibilizar cadeiras de rodas nas áreas comuns até adaptações internas nas residências por meio dos itens já listados acima.
Blog: Você acredita que haverá mais projetos específicos para este nicho de cliente?
MC: Sim, com certeza. No Brasil, existem os CoHousing, modelo de residência compartilhada que vem crescendo bastante nos últimos anos. São diferentes casas ou apartamentos, com a inclusão de unidades e áreas extras que são compartilhadas. Um dos exemplos é uma pequena vila toda voltada para os idosos. Na área habitacional de interesse social temos o Programa Casa Verde e Amarela (faixa 1) em que todos os apartamentos devem ser acessíveis, ou seja, que deem possibilidades para o proprietário fazer adaptação do banheiro no futuro, caso necessite por motivo de mobilidade utilizar barras e cadeiras para banho, principalmente porque essa faixa é carente financeiramente e pode não ter possibilidade de nova aquisição de imóvel.